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Badalada: Uma moeda social e digital

por Pedro Lago em 23.07.2021

Em São João del-Rei, o Banco da Cidade dos Sinos, Comunitário e Popular,  propõe a criação de uma moeda social e digital. Inspirado no programa pioneiro de renda básica e auxílio emergencial com moeda complementar digital que tem chamado a atenção do mundo para o município de Maricá/RJ. Com a utilização das novas tecnologias, o Banco Comunitário distribui o benefício em uma moeda social e digital: as Badaladas. 

Badalada: Uma moeda social, digital e são-joanense

'O Futuro do Dinheiro' ou 'Uma forma inteligente de “adiar o fim do mundo.'


Com a recente crise desencadeada pela COVID-19, a pauta sobre Renda Básica tem ganhado espaço no topo da agenda sobre políticas públicas e programas de transferência de renda. A criação das moedas sociais - uma estratégia que existe há quase um século no mundo e há exatamente 20 anos no Brasil - tem assumido protagonismo na luta contra o agravamento da extrema pobreza causado pela pandemia. As  Moedas Sociais e Complementares surgem como alternativa para estimular a geração e circulação de riqueza localmente, além de ser uma estratégia que fortalece a economia local e garante o bem-estar social em tempos de crise, quando a moeda oficial fica escassa. As moedas complementares digitais (MCDs) não colocam a estabilidade do sistema em risco, pois são complementares e lastreadas na moeda oficial. As MCDs visam complementar a moeda oficial - e não substituí-la. 

Com o desenvolvimento tecnológico a partir dos anos 90, intensificaram-se ainda mais as relações comerciais na aldeia global. A pandemia obrigou governos, instituições e empresas a estarem presentes no mundo digital, enquanto forçava milhões de brasileiros, até então desbancarizados, a instalar pela primeira vez um aplicativo de um banco em seu celular para receber o auxílio emergencial. O dinheiro digital, as transferências e pagamentos virtuais já fazem parte da vida cotidiana de quase todo cidadão. 

A Prefeitura de Maricá, no estado do Rio, implementou um programa pioneiro de renda básica cidadã e tem oferecido auxílio emergencial à população utilizando uma moeda complementar digital (MCD).  O auxílio é maior que o oferecido pelo Bolsa Família e seu público alvo é mais amplo, alcança 40 mil famílias e custa cerca de R$ 62 mi por ano, um dos maiores experimentos de renda básica do mundo. A experiência maricaense conseguiu fazer com que o recurso chegasse aos beneficiários com eficiência, sem aglomeração e sem riscos para a saúde pública no recebimento e na utilização dos recursos. O programa maricaense preservou empregos, manteve a economia local girando e permitiu que a população pudesse cumprir com as medidas de isolamento. A experiência tem chamado a atenção da mídia internacional e de outros municípios pelo pioneirismo na utilização das novas tecnologias: o Banco Comunitário Mumbuca distribui o benefício em uma moeda social e digital, gerida pelo do aplicativo E-Dinheiro, plataforma desenvolvida pelo Laboratório de Inovação e Pesquisa em Finanças Solidárias (PalmasLab) do Instituto Banco Palmas e a Rede  Brasileira  de  Bancos  Comunitários. 

Em São João del-Rei, o Banco da Cidade dos Sinos, Comunitário e Popular,  propõe a criação de uma moeda social e digital são-joanense. Conversamos com Roberto Lira, economista e entusiasta da Economia Solidária. Roberto explica que “Para entendermos o trabalho dos bancos comunitários, primeiro precisamos entender os fundamentos da economia solidária. A ECOSOL está fundamentada em outros princípios e valores. Falando de economia solidária, não há como não falarmos em também autogestão e democratização do conhecimento. Para existir um Banco Comunitário é preciso antes haver uma Organização da Sociedade Civil que preste suporte às atividades de gestão da moeda social. Associação dos Artesãos e Empreendedores de Economia Familiar (ASAENFA) assumiu esta missão de  implementar a moeda social pioneira aqui na cidade.” 

Na ocasião, ocupando o cargo de assessor de assuntos econômicos na gestão do prefeito Helvécio, Roberto apoiou a ASAENFA na implementação da moeda social em São João, que foi batizada de Sinos. Segundo Lira: "A maioria das práticas de economia solidária está fadada a uma vida curta de duração. Por que? Se o trabalhador não compreender a diferença entre o mundo dos negócios tradicionais e o mundo dos negócios solidários… a coisa não vai pra frente! É preciso capacitar o trabalhador para conhecer, compreender, aplicar as melhores práticas e operar solidariamente no mercado da economia solidária, ele fragiliza o próprio empreendimento e todo o ecossistema. Se os trabalhadores não forem capacitados para compreender estes novos princípios e valores da Economia Solidária e desaprender tudo o que aprendeu anteriormente sobre como sobreviver num mundo capitalista, eles acabam agindo, de forma inconscientemente capitalista, minando as bases da própria Economia Solidária.”

É curioso notar que Nessa lógica solidária, as vantagens colaborativas são mais importantes que as competitivas. A vantagem competitiva que garantiu a sobrevivência da espécie HomoSapiens até aqui foi justamente a sua capacidade de colaborar.. Uma nova economia é necessária. É uma questão de sobrevivência da nossa espécie e do planeta. A Economia Solidária parece apresentar uma forma inteligente de “adiarmos o fim do mundo.”


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